O SECRETÁRIO E OS PORTOS



- por Lúcio Flávio Pinto (*)

O secretário de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia, Adnan Demachki, que também é secretário do Programa de Parcerias de Investimento, foi a Brasília reclamar recursos para a construção da Fepasa, a ferrovia projetada pelo governo do Estado como novo eixo central de desenvolvimento do Pará. O Repórter 70 de ontem, de O Liberal, registrou o protesto do ex-quase-futuro candidato tucano à sucessão de Simão Jatene, ora tido como certo, ora descartado:
“Essa injustiça foi cometida há cerca de 35 anos, quando começou a construção da Estrada de Ferro Carajás, inaugurada em 1985, pelo General João Batista Figueiredo, então Presidente da República. Na época, a alegação dos defensores de Itaquí era o baixo calado de Barcarena, embora as técnicas de drenagem para aumentar calado sejam seculares’”.
Na edição de hoje, a mesma coluna informa que o ministério dos Transportes deverá autorizar o governo estadual a continuar os estudos para a dragagem do canal de acesso ao porto de Vila do Conde, o maior do Pará. Poderá aumentar a sua capacidade para navios com até 220 mil toneladas. Para se ter uma ideia do significado da obra, o máximo de tonelagem de um navio atualmente por esse canal é de 80 mil toneladas.
Mesmo com a expressiva expansão, Vila do Conde ainda fica distante das 400 mil toneladas do porto da Ponta da Madeira (e não de Itaqui, atracadouro de menor capacidade que fica ao lado, ambos na ilha de São Luís do Maranhão).
Era a exigência dos japoneses para que os imensos navios graneleiros levassem o minério de ferro de Carajás por 20 mil quilômetros, até o Japão, com preço mais acessível (em função da qualidade do produto e do frete proporcionalmente menor) do que o concorrente australiano. Exigência renovada pela China, que compra 60% do ferro de Carajás. E a estratégia que deslocou o eixo da maior província mineral do planeta do norte, até os Estados Unidos, para o oriente, até o Japão e a China.
Por fim, o colunista devia ter se lembrado que a Vale, dona de Carajás e da ferrovia, projetou uma frota de super-navios de 400 mil toneladas para manter a sua competitividade. Mesmo com todas as melhorias nos atracadouros paraenses, eles teriam que operar off-shore, bem distantes do continente, sem atracar ao píer, sujeitos às forças das marés e às intempéries.
Como técnico respeitado, secretário de uma pasta importante, comandante do programa de atração de investimentos e postulante ao cargo de governador, Adnan Demachki deve conhecer esses detalhes. Ou não?


(*) Lúcio Flávio Pinto é jornalista profissional desde 1966. Percorreu as redações de algumas das principais publicações da imprensa brasileira. Durante 18 anos foi repórter em O Estado de S. Paulo. Em 1988 deixou a grande imprensa. Dedicou-se ao Jornal Pessoal, newsletter quinzenal que escreve sozinho desde 1987, baseada em Belém.
No jornalismo, recebeu quatro prêmios Esso e dois Fenaj, da Federação Nacional dos Jornalistas. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace e, em 2005, o prêmio anual do CPJ (Comittee for Jornalists Protection), de Nova York.

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