DENÚNCIA: EXPLORAÇÃO INFANTIL EM RIOS DA AMAZÔNIA




Uma rotina pouco conhecida nos rios da Amazônia tem envolvido crianças e adolescentes, que arriscam suas vidas em busca de alimentos, roupas, dinheiro e variados objetos para somar na renda de suas famílias.
Nos últimos anos, ganha força na região a exploração de mão de obra infantil para o pedido de esmolas. Um perigo evidente e cada vez maior, devido a forma como ocorre sobre os rios de água doce.
O Diário On Line flagrou a situação no rio Arapiranga, no trajeto comum de quem faz a rota Belém - ilha de Cotijuba. Os pequenos ribeirinhos são vistos se equilibrando sobre rabetas para receber donativos de turistas que navegam próximo das comunidades, geralmente isoladas, durante expedições turísticas e passeios fluviais da rota.
Os principais incentivadores desta prática são os próprios pais: nos finais de semana, os ribeirinhos deixam suas comunidades e cercam as grandes embarcações como piratas, com os filhos nos braços.
Além do risco de sofrerem insolação, essas crianças e adolescentes são obrigados a seguir nesta aventura que a qualquer momento pode virar tragédia.
Rosilene Cardoso Alves, 24 anos, é casada e mãe de três filhos. A dona de casa é moradora da comunidade Vila, às margens do rio Arapiranga, área do município de Barcarena. Lá não existe água encanada nem energia elétrica, sendo a pesca e a agricultura familiar as principais fontes de renda dos habitantes.
A prática de pedir esmolas, segundo Rosilene, ajuda a somar a renda do marido - que é pescador - e dos R$ 298,00 mensais do programa Bolsa Família. Sem remorso, diz que leva os três filhos para sensibilizar quem passa e conseguir as esmolas.
"Eu só tenho essa atividade, não faça nada", afirma Rosilene. "No inverno a nossa situação fica difícil e melhora apenas no mês de agosto, época de açaí e camarão. Os meus filhos têm sete, quatro e um ano de idade, e todos vem comigo pedir esmola."
Em relação aos perigos, a dona de casa reconhece. "Eu tenho medo, sim. Existe o risco da rabeta afundar e eu não conseguir salvar os meus três filhos, mas o que eu posso fazer?."
Os riscos são evidentes e mais comuns do que se pensa. Moradora da comunidade e também dona de casa, Valéria Ferreira Monteiro, 29 anos, sofreu um acidente há dois anos, quando caiu da canoa. Um susto que deixou sequelas.
"Minha família e eu atravessávamos o rio quando cortaram a frente da canoa. Fiquei alguns minutos embaixo da água, machucada e sem poder respirar", relembra com angústia. "A qualquer momento uma criança pode cair e acidentes como aquele acontecerem de novo. Até hoje sinto dores e dificuldades para andar."
As imagens registradas com exclusividade pela equipe de reportagem do Diário On Line chegaram ao conhecimento do Conselho Tutelar. O conselheiro Benilson Silva também externou a preocupação com os riscos que as crianças estão expostas. Na entrevista aponta ainda os pontos que infringem as normas do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Fonte/Fotos: DOL/Cézar Magalhães

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